Já devo ter dito algures que prefiro Governos com a capacidade e descaramento de faltar às promessas (quanto mais não seja porque o eleitorado é manifestamente incapaz de comunicar com a realidade). Chego ao extremo de não me aquecer ou arrefecer o facto de essas promessas terem sido feitas com a consciência de que não poderiam ser cumpridas, o que me torna um quase indiferente a doses consideráveis de demagogia e mentira eleitoral. Mas, mesmo para uma pessoa sem princípios como eu, esta tentativa de Sócrates de transformar a sua cobardia, subserviência e falta de carácter numa "ética de responsabilidade" desafia os próprios dicionários de sinónimos e adjectivos. Com o devido respeito, a cona da prima de segundo grau dele é que esta decisão de não convocar o referendo é uma "ética de responsabilidade". Faltar a uma promessa nunca poderá equivaler a um mérito; significa, na mais benévola das hipóteses, que nos enganámos, o que exigiria, no mínimo, um lamento e um pedido de desculas. Mas não: Sócrates enche o peito e, na mais radical das sem vergonhas da política contemporânea portuguesa, garante que até "seria vantajoso para o Governo ir a referendo". Não utilizava a palavra vómito desde 3 de Março de 1983."