Verificou-se, há pouco mais de três meses, a renúncia de João Ilídio Costa ao mandato de vereador na Câmara Municipal de Vizela. Foi eleito, recorde-se, nas últimas eleições autárquicas, realizadas em outubro de 2017, ao encabeçar, como independente, a lista do PS – Vizela, acabando derrotado. A admissão do cargo de vereador sem pelouros implicou uma prévia resignação: a louvável e voluntária abdicação do direito natural de presidir à direção da Real Associação de Bombeiros Voluntários de Vizela.
Uma análise crítica e ponderada ao teor do comunicado, entretanto emitido, mostra-nos um genial exercício de diplomacia que, com muita similitude ao atribuído ao génio de Almada Negreiros, “se manifesta sem se manifestar”. Respeita-se a postura. É, como tudo indica, uma atitude típica de quem se confronta com um grave dilema, ou seja, o conflito daquele que se sente obrigado a escolher entre duas alternativas que se excluem mutuamente. Nesta eventualidade, apenas e só na certeza destas circunstâncias, se compreenderá que um homem apologista do rigor da verdade, da seriedade e da transparência - assim se apresentou ao eleitorado - restrinja aos seus concidadãos, que também são os seus eleitores, o direito elementar, diria mesmo fundamental, ao conhecimento das verdadeiras e concretas razões que presidiram à sua demissão; unicamente nesta eventualidade, se entenderá como um indivíduo reconhecido, sobretudo por aqueles que, há décadas, com autoridade e conhecimento, lhe traçam um perfil de ator tenaz nas acções e batalhas travadas, repletas de racionalidade, justiça, prudência, coragem e valentia, venha a abandonar um confronto político ainda mal começado. Sem querer sobrepor o meu desejo de uma inequívoca explicação ao seu direito de o fazer quando entender que a deve fazer, estou certo que acabarão a ser explicadas as verdadeiras razões pelas quais teria sido forçado a apresentar a demissão desse cargo, pois não acredito que ele ignore as responsabilidades que, pela força do ato eleitoral de 2017, deve ao eleitorado. Nestes pressupostos, a pergunta que se coloca é: qual o futuro político de João Ilídio Costa? Irá criar um espaço próprio que lhe permitirá apresentar uma candidatura independente nas próximas eleições autárquicas? Irá criar um novo movimento político? Penso que tudo está em aberto. Será prematuro falar, mas nunca despropositado. Creio que o homem não amoleceu, politicamente, ao demitir-se do cargo de vereador (independente) do Partido Socialista (P S). Não é aventureiro, é, bem pelo contrário, um homem equilibrado e muito coerente, pelo que jamais tomaria atitudes arriscadas, precipitadas e desprovidas de séria reflexão. Salvaguardo, no entanto, não conhecer nem ser bom intérprete das suas ambições políticas. Contudo, sabe-se que, pelas constantes inépcias e renovadas estultícias dos partidos políticos, as eleições já não passam apenas pelos partidos. De resto, a projeção política que ele detinha nunca sobreveio do P S. Este apenas a confirmou. Assim sendo, não será de acreditar que ele tenha desaparecido do panorama político, nem creio que seja essa a sua intenção, muito menos a fuga aos problemas. Estou convencido que o seu regresso se irá verificar, para regozijo de uns e de mágoa para outros, e, mais certo ainda, de que muita gente sairá penalizada. Nesse momento, cessará o meu dever de compreensão e solidariedade para com a sua polida decisão de resignação ao cargo de vereador. Nessa instante, estilhaçar-se-ão todos os condicionalismos e obrigações de cunho diplomático, tornando-se claro que os argumentos apresentados dessa demissão, bem como as subsequentes comedidas reações, não passaram de genuínos fait-divers políticos de ocasião. Aguardemos, serenamente, pelo devir histórico. Porém, nessa altura, acredito que as preposições agora enunciadas reverterão, mimeticamente, como realidades nessa contemporaneidade.