Prolegómenos Eleiçoeiros
Carta de boas-vindas (ao grande circo da política vizelense)
Meu caro João Ilídio Costa,
Seja bem aparecido.
Quero começar por dizer-lhe que foi com algum desagrado que recebi a notícia da sua candidatura à presidência da C.M.V. Por um lado, já que isso implica a saída de cena do nosso bom amigo, o presidente em exercício, no qual era tão fácil malhar. Consigo, receio, não vou ter as mesmas oportunidades. Até já andei a vasculhar no seu histórico, mas pouca coisa se aproveita. O que é uma pena, já que, como deve compreender, isso estraga-me bastante os planos.
Além disso, eu já quase tinha garantido o lugar de porteiro do Museu da Mota.
Voltando ao histórico: ser presidente da Câmara sempre foi um dos seus objectivos. Já o havia afirmado publicamente em 2009. E é perfeitamente legítimo. Só é pena que tenha demorado tantos anos a decidir-se. Não me diga que teve também de respeitar os timings do partido a que não pertence? Quanto tempo perdido, meu Deus! Entretanto a malta foi vendo, e são palavras suas, “a dívida passar de 13 para 33 milhões”. Lembra-se da frase de Luther King que citou na altura: "O que me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons”? Pronto, deixe lá, a gente aguenta… “A ordem é rica e os frades são poucos”.
Eu costumo dizer que não existem maus rapazes, o que há são más companhias. Assim como reza o provérbio: “diz-me com quem andas… Ora na política temos de conviver com gentinha muito manhosa. Está a perceber? Mas quem sou eu para lhe dar conselhos. Já por lá andou, chateou-se, partiu a loiça, acabou por bater com a porta. E olhe que apesar de as moscas irem mudando, receio que a coisa continue a mesma.
Devo também confessar-lhe que me habituei a desconfiar dos messias ou dos homens providenciais. A história comprova que, na maior parte dos casos, os resultados foram francamente tenebrosos. Umas vezes para o povo, outras para os próprios. Mas há que ser optimista- como diariamente nos aconselha o professor Marcelo.
Outra coisa… Vai-me desculpar, mas não faz muito sentido a sua mensagem de que vem para lançar pontes e unir os vizelenses, quando, na verdade, o seu percurso é mais de rupturas do que de consensos. Ou, pelo menos, aquelas são muito mais badaladas. O que, repare, até pode nem ser defeito. Porém, se o propósito é aquele, não começou nada bem. Insistiria até que todo o processo foi muito mal conduzido. A sua entrada em cena, lembra um bocadinho a saída do Durão Barroso para Bruxelas, deixando o país a arder (perdoe-me a imagem). Além disso, a sua aparição deixa muitos fregueses com a alma dividida, o coração aos saltos e as calças na mão. Assim, como é que eles vão poder dar as mãozinhas?
Agora, deixe que lhe diga, você tem alguns pontos fracos que os adversários vão explorar: não é simpático; tem um ar austero; é sisudo...e não frequenta os bares da moda. Também se comenta que é um bocadinho prepotente. “É muito snobe”; “Não tem perfil, já não tem idade, não tem trajecto politico para ser presidente”; “Não tem pulso. É muito arrogante e altivo”, escrevem os comentadores anónimos das redes sociais com que tanto embirra. Já não o Joe Fagundes, Pontos nos iii e Atalaia do seu tempo (ou se retiraram ou mudaram de pseudónimo), mas outros que lhe herdaram o despudor e a covardia. Em contrapartida, arranjou um apoio inesperado na pedante verborreia de um tal Guri. E porque será?
Termino, rogando que absolva esta minha ousadia, quase a roçar a impertinência. Vou tentar justificá-la (esta e outras, eventualmente) com uma citação de Edmund Burke, muito semelhante no sentido àquela de que você tanto gosta: “Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada”.
Eu, que não me acho bom nem mau, vou fazendo o que posso.
Atenciosamente.
Autor Sérgio Coelho (facebook)