08
Fev 11


Parado ao sol, o escorpião olhava ao redor da montanha onde morava.

- Positivamente, tenho de me mudar daqui – pensou.

Esperou a madrugada chegar, lançou-se por caminhos empoeirados até atingir a floresta. Escalou rochedos, cruzou bosques e, finalmente, chegou às margens do rio largo e caudaloso.

- Que imensidão de águas! A outra margem parece tão convidativa… Se eu soubesse nadar…

Subiu longo trecho da margem, desceu novamente, olhou para trás. Aquele rio certamente não teria medo de escorpião. A travessia era impossível.

- Não vai dar. Tenho de reconsiderar minha decisão – lamentou.

Estava quase desistindo quando viu uma rã sobre a relva, bem próxima à corrente. Os olhos do escorpião brilharam:

- Ora, ora… Acho que encontrei a solução! – pensou rápido.

- Olá, rãzinha! Me diga uma coisa: você é capaz de atravessar o rio?

- Ih, já fiz essa travessia muitas vezes até a outra margem. Mas por que você pergunta? – disse a rã, desconfiada.

- Ah, deve ser tão agradável do outro lado – disse. Pena eu não saber nadar.

A rã já estava com os olhos arregalados.

- Será que ele vai me pedir…?

- Se eu pedisse um favor, você me faria? – disse o escorpião mansamente.

Que favor? Murmurou a rã.

- Bem – o tom da voz era mais brando ainda -, bem, você me carregaria nas costas até a outra margem?

A rã hesitou:

- Como é que eu vou ter certeza de que você não vai me matar?

- Ora, não tenha medo. Evidentemente, se eu matar você, também morrerei – argumentou o escorpião.

- Mas… e se quando estivermos saindo daqui você me matar e pular de volta para a margem?

Nesse caso eu não cruzaria o rio nem atingiria meu destino – replicou o escorpião.

- E como vou saber se você não vai me matar quando atingirmos a outra margem? – perguntou a rã.

- Ora, ora… quando chegarmos ao outro lado eu estarei tão agradecido pela sua ajuda que não vou pagar essa gentileza com a morte.

Os argumentos do escorpião eram muito lógicos. A rã ponderou, ponderou e, afinal, convenceu-se.

O escorpião acomodou-se nas costas macias da agora companheira de viagem e começaram a travessia. A rã nadava suavemente e o escorpião chegou quase a dormir. Perdeu-se em pensamentos e planos futuros, olhando a extensão enorme do rio. De repente se deu conta de que estava dependendo de alguém. De que ficaria devendo um favor para a rãzinha. Reagiu, ergueu o ferrão.

- Antes a morte que tal sorte – pensou.

A rã sentiu uma violenta dor nas costas e, com o rabo do olho, viu o escorpião recolher o ferrão.

Um torpor cada vez mais acentuado começava a invadir-lhe o corpo.

- Seu tolo! – gritou a rã.

- Agora nós dois vamos morrer! Por que fez isso?

 

O escorpião deu uma risadinha sarcástica e sacudiu o corpo.

 

 

- Desculpe, mas eu não pude evitar. Essa é a minha natureza.

publicado por José Manuel Faria às 22:59

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.


Fevereiro 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9





comentários recentes
António Costa protagoniza arruada este domingo em ...
e o carvalhinho tambem entra nas contas? Sempre no...
Um livro, critérios diferentes:O livro das bandas ...
Quem é esta Irene Costa?É Socialista? militante? h...
"Não deixei de ser quem fui, não vou alterar em na...
Comissão Administrativa da Concelhia do Partido So...
Os PS (grandes) só se lembram dos militantes para ...
Olha os socialistas interesseiros, quando dava jei...
Um milhão de euros!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!...
Convém informar quais os funcionários que passam/r...
subscrever feeds
mais sobre mim

ver perfil

seguir perfil

11 seguidores

pesquisar neste blog
 
Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

blogs SAPO