Um convite ao Partido Comunista Chinês (PCC), por parte do PS, está a desencadear uma pequena tempestade na blogosfera. Vários blogues políticos têm criticado os socialistas pela participação - já confirmada - dos comunistas chineses no próximo congresso do partido, a decorrer entre 10 e 12 de Novembro. E, em declarações ao DN, o ex-ministro socialista dos Negócios Estrangeiros José Medeiros Ferreira ironiza: "A presença dos comunistas chineses e a discussão sobre o aborto constituem as duas referências de esquerda" neste congresso.
"As relações do Estado português com o Estado da República Popular da China são normais e desejáveis, mas relações partidárias? Na minha actividade profissional relaciono-me com quem tenho de relacionar-me, mas para jantar em minha casa só convido os meus amigos", escreveu Tomás Vasques, ex-deputado socialista, no seu blogue, Hoje Há Conquilhas (hojehaconquilhas.blogspot.com.)
"Duvido muito, para não dizer que tenho mesmo a certeza, que os princípios do PS coincidam com os do PCC. Primeiro, um é socialista e outro é comunista. Um é partido com existência num Estado de Direito Democrático e o outro não. Finalmente, penso que os valores do socialismo democrático nem são apresentados, quanto mais defendidos pelo PCC", escreveu outro militante socialista, Carlos Manuel Castro, no seu blogue, Tugir (tugir.blogspot.com). Posições surgidas após a exibição, em vários canais televisivos internacionais, de imagens de guardas fronteiriços chineses alvejando mortalmente cidadãos tibetanos que pretendiam refugiar-se no vizinho Nepal. País independente até 1959, o Tibete foi anexado neste ano por Pequim. O Dalai Lama, líder tibetano e Prémio Nobel da Paz em 1989, vive desde então no exílio.
Em declarações ao DN, o secretário nacional do PS responsável pelas relações internacionais do partido, José Lello, assegura que o convite à delegação chinesa vai manter-se. "O PS e os comunistas chineses têm relações no âmbito da Internacional Socialista, na qual o PCC tem o estatuto de observador. Só lhes faz bem assistirem a um congresso muito participado e democrático, como será o nosso", disse Lello, desvalorizando o que leu nos blogues: "Os autores dessas críticas não foram eleitos para coisa nenhuma."
Medeiros Ferreira opta pelo registo irónico: "É possível que aqueles que vão agora aplaudir a delegação do Partido Comunista Chinês sejam os mesmos que aplaudiram o Dalai Lama quando cá esteve. Isto é muito frequente no PS."