(…)Aqui chegados, a questão que se coloca (e que nos divide) é saber se o PS (o que existe e não aquele que gostaríamos que existisse) pode ser excluído de uma alternativa política de centro-esquerda.
O BE entende que é possível uma alternativa política de esquerda sem o PS (e até sem o PCP!), mesmo depois de falhada, ou pelo menos adiada até às eleições presidenciais a ilusão Alegrista. Só ainda não conseguiu explicar como é que isso se faz. Aguardemos!
O PCP, mais racional, espera que o PS rompa com as suas políticas de direita para depois equacionar a questão, o que vai dar ao mesmo. Aguardemos!
E, enquanto aguardamos, ou a direita conquista o poder, ou o PS governa ora com os votos da direita, ora com os votos da esquerda, conforme lhe der mais jeito. E continuamos a ter um país adiado!
Ora, há um outro caminho. Porventura mais difícil, mais íngreme e mais estreito, mas sem dúvida mais proveitoso e cujos resultados de curto e médio prazo melhorariam significativamente a vida dos portugueses. E esse caminho tem de ser percorrido com o PS. Não para que continuem as mesmas políticas de direita, mas para implementar uma base mínima de políticas concretas que sejam o máximo denominador comum possível de encontrar neste momento entre as propostas do PS, do PCP e do BE. Não se trata pois de “passar um cheque em branco” ao PS ou de apoiar o PS para realizar as mesmas políticas de direita, como de forma intelectualmente pouco séria, o PCP e o BE acusam aqueles que defendem este caminho de pretenderem.
Sendo completamente absurdo que o PCP e o BE queiram que o PS realize os seus programas, e sendo absolutamente irrealista que o PCP e o BE consigam uma expressão eleitoral que lhes permita impô-los, a opção é entre a continuação do “experimentalismo” político em sucessivas tentativas de encontrar uma alternativa política de esquerda (ideal), da qual não há certeza da sua viabilidade, e poderemos estar a atirá-la para as calendas gregas, ou uma alternativa política de esquerda com o PS (a possível) que está ao nosso alcance concretizar. Para mim esta última opção é clara, e não vejo como seja possível racionalmente rejeitá-la.
Infelizmente, as posições do PS, do PCP e do BE nesta matéria actualmente inviabilizam qualquer solução. Mas devemos, por isso, desistir de lutar por ela? - Não, até porque vai engrossando o número daqueles que no PS, no PCP e no BE começam publicamente a manifestar esse desejo que, estou convicto disso, é partilhado pela maioria dos eleitores de esquerda.
É evidente que esta alternativa política de esquerda que proponho não vai aparecer com um simples “estalar de dedos”, antes será fruto de muito trabalho político. Estou convencido de que se fizermos esse trabalho, quando as circunstâncias políticas o exigirem, estarão maduras as condições objectivas e subjectivas para a sua concretização.
Devemos, pois, (e deve a RC) em minha opinião continuar a defender e a trabalhar para a concretização de uma alternativa política de esquerda que englobe o PS, o PCP e o BE, não só porque na actual situação política é a melhor solução de governabilidade, como talvez seja a única que no curto e médio prazo pode implementar políticas que melhorem significativamente as condições de vida dos portugueses.
Manuel Oliveira
Porto, 21 de Agosto de 2009