"Sobre as causas da renúncia do papa chovem, agora, as justificações. O tempo será juiz da verdade, mas uma coisa esta decisão extrema e inesperada revela: a Cúria Romana, bastião da hierarquia, está à beira da ruptura. Só assim se entende que o «homem de ferro» que o ex-inquisidor tem sido, se renda de repente e renuncie. Mesmo que doentes e velhos, outros papas souberam resistir a essas condições adversas.
Fala-se muito repetidamente nos escândalos da pedofilia eclesiástica. Fala-se sobre isso agora, quase tanto quanto até aqui se calou. São factos bem conhecidos de todos, tolerados ao longo de séculos e séculos e que, de repente, se reconhecem só para distrair as atenções do quadro geral que o Vaticano vive. Há escândalos por toda a parte, envolvendo eclesiásticos e leigos, sociedades secretas e fundações, hierarquias religiosas e capitalistas, numa imensa teia de actos ilegais e de crimes. Tocam as mais diversas áreas: as lavagens de dinheiro, os armamentos, a pornografia, as empresas de offshore, os óbolos de S. Pedro, o aproveitamento das relações diplomáticas, o tráfico de influências e um cortejo infindável de conspirações subterrâneas. O presidente do Banco do Vaticano foi recentemente demitido e o próprio banco está a ser submetido a uma auditoria. As relações ocultas entre os magnatas que originam a miséria e a filantropia vão sendo evidentes. A hierarquia diz combater a miséria enquanto protege e se entende com as grandes fortunas."