"(...)Dizem-nos que dará pelo acrónimo de LIVRE. Um acrónimo bem esgalhado e simpático, excepto talvez pela implícita sugestão que deixa: a de que os restantes partidos e os seus membros não o serão. Nada que deva, no entanto, ser encarado pelos outros como uma desconfortável ameaça. Bastará que não projectem (pelas suas práticas e funcionamento interno) razões para que essa imagem recaia sobre si, para que uma tal sugestão implícita se esfume, sem gritos nem azedumes.(...)"
"(...)Se o resultado for uma maior fragmentação, ou se o tal LIVRE se vier a revelar irrelevante, lamentá-lo-ei. Mas, afinal, não só é total e completa a legitimidade de criar partidos, por parte de quem não se reveja nos existentes e pretenda intervir politicamente sob essa forma, como não é monopólio dos partidos já existentes o direito à asneira e ao desrespeito pelas aspirações populares (com e sem partido) à construção de uma alternativa comum e concertada que derrote as insustentáveis políticas presentes.
Também à parte das curiosidades que há pouco expressei, pelo menos uma vantagem é expectável da criação desse partido. Vindo o Rui Tavares a levantar publicamente, desde há muito, diversas questões sobre a qualidade da democracia, a UE e a nossa relação com ela (questões que, discorde-se ou concorde-se com as suas posições, são relevantes e merecem ser discutidas, embora a isso fujam os partidos existentes, por tacticismo ou desconforto), é provável que elas venham a ser objecto do discurso desse novo partido e que, com isso, não haja como não discuti-las. E, atrás delas, outras. Nesta fase de paradoxal enquistamento dos partidos de esquerda sobre si próprios e de ainda mais paradoxal business as usual, talvez só isso já valha a pena.(...)"