"Há uma semana, apresentou uma proposta de diálogo com outros partidos e sectores de esquerda, “nomeadamente o Livre e o 3D”, que foi chumbada por 10 votos, no órgão máximo do partido. Lamenta a “auto-suficiência” que faz com que o Bloco recuse “sentar-se à mesa” com quem está disponível para “assumir compromissos” e debater um programa, para governar.
Se o partido não mudar de estratégia, Ana Drago teme “que as pessoas deixarão de ver utilidade política no Bloco”. E ela própria? “Hoje milito no Bloco. Mas isto é um dia de cada vez…”
O que é que aconteceu à esquerda, em Portugal, nestas eleições?
Creio que acabou por se confirmar aquilo que já se percebia antes das eleições: o PS, mesmo num cenário de grande agressividade por parte da direita, não tem uma direcção disposta a fazer uma luta política e social suficientemente forte. Há demasiados compromissos que unem esta direcção do PS à linha europeia que está a ser seguida. Isso resultou naquilo a que Mário Soares chamou “uma vitória de Pirro”. O PCP acaba por capitalizar uma certa sensação de segurança, e também um voto de resistência. Alguém me dizia, com uma certa ironia, que o PCP funciona como um cofre. Vota-se, e o partido guarda o voto, faz uma defesa do Estado Social, da democracia. Mas não se espera uma alteração… Quem deixou de votar no Bloco e votou PCP fê-lo por estar zangado com o Bloco mas sem grandes expectativas em relação ao PCP. O Bloco viu agravar-se a dificuldade que sente desde 2011, que se prende também com expectativas, com o projecto político que apresentou.
Que expectativas é que o Bloco frustrou?
O Bloco sempre se apresentou – e foi assim que o escrevemos na altura – como uma tentativa de lutar contra duas desistências: a desistência do PCP de transformar a política, por viver no seu espaço de identidade e de resistência; e a do PS, que vive naquele seu social-liberalismo, abandonando parte da sua identidade de partido social-democrata tradicional. O Bloco pretendia desafiar essas duas desistências, fazendo propostas que permitissem criar maiorias sociais e que, de alguma forma, desbloqueassem a esquerda. A direcção do Bloco tem manifestado uma enorme dificuldade em fazer isso.(...)