O objectivo é levar mais longe a conciliação entre a democracia representativa e a democracia participativa. Concretizando: elaborar um programa de governo, ouvindo e colhendo contributos do maior número de pessoas possível e elaborar listas eleitorais às legislativas através de primárias abertas a todos.
A Candidatura Cidadã Tempo de Avançar é, assim, um passo em frente na modificação de procedimentos eleitorais que o Livre tem introduzido na política portuguesa. Depois de nas europeias de 2014 terem feito listas de candidatos através de primárias, agora repetem a experiência mas alargando o universo a vários movimentos e independentes. A ideia é que todas as pessoas possam propor e ser propostas como candidatas e votar depois na escolha dos nomes que entrarão na lista apresentada no Tribunal Constitucional. “As primárias vão fazer com que, pela primeira vez, a escolha dos representantes dos cidadãos à Assembleia da República passe por um processo que não depende das direcções de partidos”, afirma Rui Tavares.
Para que isso seja possível, a Convenção da Candidatura Cidadã Tempo de Avançar, que se realiza no próximo domingo, aprovará um conjunto de documentos. Um será de orientação política, outro sobre o funcionamento orgânico da Tempo de Avançar e a eleição dos membros dos órgãos do movimento. Mas também irá ser aprovado o regulamento das primárias. Além das grandes linhas programáticas. Já depois da Convenção “segue-se o processo de elaboração do programa eleitoral propriamente dito, medida a medida, conteúdo a conteúdo”, tal como a preparação das primárias, explica Tavares.
Entre os que estão neste processo destaca-se a Associação Fórum Manifesto formada por ex-membros do BE, nomeadamente os que se afirma m herdeiros da Política XXI, partido fundador do Bloco. “Esta aproximação entre Livre e Manifesto e outras associações é algo de novo”, explica Ana Drago, antiga deputada pelo BE e dirigente do Manifesto. “Percebemos que não chega formar organizações e somar organizações, é preciso criar um espaço de construção de programa. O momento que o país vive tem que dar consciência de que é preciso criar espaços para dar respostas que sejam mais do que somar forças.”
Assim o objecto é elaborar também um programa eleitoral de forma nova. Rui Tavares explica que tudo nasceu perante a incapacidade de os partidos parlamentares de esquerda se entenderem. Já em 2012 lançou o Manifesto por uma Esquerda Livre com pessoas como Renato Carmo, André Barata, Marta Loja Neves, Vera Tavares e Safaa Dib, que hoje estão no Livre.
“Era o nosso grito de alma acerca da esquerda europeia e portuguesa, na tentativa até de não fazermos partido. Era um alerta. Não houve mudança nos partidos de esquerda, não houve diálogo para a mudança e evoluímos para a ideia de partido como catalisador dessa dinâmica”, precisa Tavares.
E acrescenta que, “se do ponto de vista partidário o apelo era solitário, do ponto de vista da sociedade ele era prevalente”. Por isso decidiram evoluir para um partido que sirva de jangada a um movimento no mar eleitoral das legislativas. “Vamos envolver centenas de cidadãos pelo país todo. Há uma participação cívica diferente”, garante Tavares.
Mas Rui Tavares adverte que as inovações não terminam no dia das eleições. “Uma das coisas mais importantes deste processo é o que se passará das eleições para a frente, no momento em que a Candidatura Cidadã se transformar em Legislatura Cidadã”, garante o ex-eurdeputado, que insiste na ideia de que o movimento Tempo de Avançar “não morrerá no dia das eleições: vai durar quatro anos de legislatura, para trazer mais qualidade e mais reflexividade, para que a representação seja uma via de dois sentidos.”
Isso significa que “o movimento continuará o trabalho local, com assembleias locais, com assembleias cidadãs, com o objectivo de debater propostas legislativas e para debater e aprovar um programa governativo. Passa a ser mais exigente, porque para levar o compromisso da maioria terá de ser muito detalhado nos conteúdos.