As próximas eleições legislativas não são umas eleições quaisquer. Nelas está em risco o adquirido democrático e social do nosso país. Permitam-me relembrar os traços essenciais deste argumento, embora ele já venha sido defendido há muito nesta crónica.
Em primeiro lugar, veremos certamente nos próximos meses que uma grande parte das elites e clientelas (são ambas as coisas) dos partidos do centro vão começar a clamar por um governo conjunto dos seus partidos — o chamado governo de “bloco central”. Exortarão a concretizar-se uma estabilidade para europeu ver, como sempre, mas é revelador que o fazem à medida em que os seus partidos forem ficando mais fracos, pelo desânimo que a continuação de uma “política do mesmo” provoca na população. Quando chegarem as eleições, e logo após, vão suceder-se estas pressões.
Ora, — este é o segundo ponto —, um futuro governo de bloco central é um perigo para o país. Vai amalgamar todos os partidos do sistema numa massa indistinta e sem alternativa, onde cada parte justificará e ocultará as fraquezas dos outros. O “bloco central” não vai transformar em força estratégica a fraqueza desses partidos acossados pela falta de perspectivas. Pelo contrário, são os partidos que vão contaminar o próprio regime com a sua fraqueza, pondo em risco a legitimidade da governação.
Há pior. Este PSD tem uma aspiração declarada de alterar a Constituição, que ficou ainda mais intensa depois deste mandato, e que não deixaria de impôr na mesa de negociações para uma maioria de governo que muito provavelmente seria também a maioria suficiente para uma alteração constitucional.
Uma quarta premissa é que a própria natureza da governação mudou com esta crise. Os governos governam a nível nacional, mas a nível europeu (e, crucialmente, da zona euro) representam, negoceiam e até legislam em nosso nome. Na verdade, nós não vamos só eleger um governo — vamos também eleger a voz de Portugal no Conselho Europeu durante quatro anos. Queremos que esta seja uma voz submissa ou que Portugal tenha uma estratégia própria no tabuleiro europeu?
Perante este quadro, é crucial que a esquerda faça escolhas estratégicas e não, como de costume, manobras táticas. O momento é de responsabilidade histórica, e bem identificado num manifesto recente no qual pontificam cinco historiadores — António Borges Coelho, Cláudio Torres, Fernando Rosas, Luís Reis Torgal e Manuel Loff, por ordem alfabética — alguns deles politicamente ligados, ou próximos, ao PCP e do BE. Neste manifesto as coisas são postas com a crueza que têm: “as eleições estarão perdidas para todas as esquerdas se, depois de três anos de Troika, o nosso povo tiver pela frente trinta anos de empobrecimento”. Esta é a quinta premissa, e decisiva: ou fazemos algo para interromper a deriva ou cada vez menos teremos um país onde valha a pena viver.
“Resistir é pouco para salvar” o país, diz este "Manifesto para uma esquerda que responda por Portugal" (como dizíamos já no "Manifesto por uma esquerda livre", há dois anos, e no Congresso Democrático das Alternativas, pouco depois). “As esquerdas não podem continuar a ser o que sempre foram”, concluem, e é certo.
Esperemos que o facto de o apelo vir agora de setores mais próximos dos seus partidos leve o PCP e o BE a retirarem a forçosa consequência: a de que só se pode evitar o desastre com um pólo forte à esquerda que esteja pronto a governar.
A CDU-Madeira ficou a cinco votos de eleger um terceiro deputado nas eleições legislativas deste domingo e, por isso, sobretudo porque podem permitir retirar a maioria absoluta ao PSD (24 deputados), Edgar Silva garante que vão à assembleia de apuramento eleitoral 'resgatar' os votos que lhes faltam para esse objectivo.
Em declarações há pouco após o fecho da contagem de votos, o agora reeleito deputado comunista frisa que a CDU obteve uma "votação histórica, o melhor de sempre do partido nas eleições regionais", destacando que estão á beira de conseguir o terceiro mandato.
Nesse sentido, a CDU vai recorrer à Assembleia de Apuramento que poderá decidir se há ou não maioria absoluta do PSD, conquistada por pouco. Os tais cinco votos que a CDU vai procurar obter. "A CDU pode tirar a maioria absoluta ao PSD", reforça.