Centenas de milhares de trabalhadores da Administração Pública encerraram centenas de serviços, sobretudo nos hospitais e nas escolas, ao abrigo de um pré-aviso de greve apresentado apenas por alguns sindicatos dos respectivos sectores profissionais pertencentes à Frente Comum dos sindicatos da Administração Pública (filiados na CGTP).
Esta greve tinha como reivindicação central o descongelamento dos salários e das carreiras, uma questão que afecta todos os funcionários públicos. Esse congelamento existe a partir de 2010, para praticamente todos eles.
Desde essa data, a inflação aumentou mais de 9%, com a correspondente perda de poder de compra destes trabalhadores. Segundo informação sindical, tratou-se de uma das maiores greves dos últimos anos dos funcionários públicos. A média de paralisação foi de 70% a 90% em muitos serviços.
Esta mobilização para a greve foi a expressão da vontade dos funcionários públicos de não aceitarem a decisão contida no Programa de Estabilidade que o Governo português acabou de enviar para Bruxelas, relativo ao período 2017-2021, indicando que os salários dos trabalhadores da Administração Pública continuarão congelados, ao mesmo tempo que estima em 8,9% o aumento dos preços nesses 5 anos.
Quer dizer, eles não aceitaram uma diminuição do seu poder de compra em quase 20%, numa década.
Foi esta a mola da mobilização!
Este corte no poder de compra entra frontalmente em contradição com as expectativas e aspirações dos trabalhadores e das populações que, nas eleições legislativas de Outubro de 2015, puseram em minoria os representantes dos partidos da Direita que ocupavam o poder e viabilizaram a constituição de um Governo do PS (que conta com o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português).
Perante estas legítimas aspirações seria então natural que as Direcções de todos os sindicatos dos trabalhadores da Administração Pública tivessem feito um apelo comum a esta greve. Mas não foi isso que aconteceu…
Por exemplo, os sindicatos dos professores, dos enfermeiros e dos médicos não apelaram à greve. As suas Direcções privilegiam as “agendas negociais” particulares em detrimento da acção conjunta.
Esta orientação política decorre do seu “apoio crítico” ao Governo e da tentativa de encaixarem essas agendas particulares na “agenda de fundo” do próprio Governo – aquela que decorre do “respeito de todos os compromissos com os nossos credores”, que este Governo nos recorda todos os dias e que tem levado à manutenção dos cortes nos serviços públicos, prosseguindo a este nível a política do Governo anterior.
E é este posicionamento das Direcções sindicais que permitiu ao ministro das Finanças, Mário Centeno (1), vir reafirmar – após a greve – que, até 2019, “não se prevê qualquer actualização das tabelas salariais (dos funcionários públicos)” e que “o descongelamento das carreiras será muito faseado”.
No entanto, esta mobilização massiva dos funcionários públicos – em defesa do seu poder de compra – é a expressão de uma resistência que também se começa a fazer sentir
noutros sectores.
Correspondente Portugal