A maioria dos comentadores e o PS interpretaram à letra as frases suicidas de MFL. Na minha opinião tratou-se de ironia, a dirigente queria dizer que o PS só em ditadura poderia concretizar as reformas, dá-se mal com a Democracia. A ideia é suicida porque vem da Líder do maior partido de oposição e obviamente o PS aproveitou e fez fuga para a frente ( nós somos a esquerda) tornando as declarações de MFL um balão de oxigénio que bem necessita.
A ironia fina bem encaixada num contexto perfeito é uma arma argumentativa excelente, mal utilizada provoca uma tempestade.
Há 11/12 anos numa intervenção a propósito da defesa do Concelho de Vizela na TSF utilizei a figura da ironia profunda. Foi o descalabro total: os ouvintes vizelenses ficaram atarantados e os camaradas do PCP - na altura era dirigente concelhio do PCP - estupefactos perante tal argumentação. Afirmava num tom irónico que era contra a criação do Concelho de Vizela... e explicava as razões. A direcção concelhia do partido ( Guimarães) pediu-me explicações e na rádio Vizela "retratei-me." Foi uma experiência política que "jurei" não mais utilizar, a ironia oral sem observação da expressão facial, dos sorrisos ou do tom, faz com que a mensagem não passe. Na escrita é mais fácil perceber a ironia.
MFL pode ter terminado ontem a sua carreira política. A única solução para colmatar o erro, é a convocação de uma conferência de imprensa aberta a perguntas , explicando-se sem nervosismo.