Não gosto de ir à praia.
Há Verões em que detesto. Este é um deles.
Não gosto de apanhar sol. Aguento dois minutos, no máximo, após os quais desfaleço. Sobretudo, acho feio ver uma pele queimada. Tipo torresmo. Uma vez, numa rua do Rio de Janeiro, um negro-negro olhou para mim e disse: "Olha só, toda branquinha, me amarro nessa cor!". Eu também.
Não consigo ler na praia. Há demasiadas conversas à volta. Nem conversar. Há demasiadas pessoas a escutar.
Não gosto da areia colada na pele. (Quando era criança quis imaginar quantos milhões de grãos existiam na praia; vá lá, no punhado que tinha na minha mão).
Não suporto a proximidade com as pessoas da "barraca" do lado. Embora gostasse de dormir dentro da barraca quando era criança, ou seja, no tempo em que se usavam as barracas.
Não aguenque não frequento ginásios e muito menos balneários)
Não sei nadar. Ou nado tão mal que o mar me parece assustador.
Gosto de ver. O azul, as rochas, a luz a bater. Ver é o meu verbo. E quando vejo pessoas a mergulhar, até penso que deve ser bom mergulhar. Mas eu?, nãaaaa.
Posso molhar os pés no mar, se for Copacabana ou Ipanema. Pela mística. E porque canto para mim as canções do Dick Farney e do Tom Jobim.
Felizmente há tardes de sombra e posso sempre ficar em silêncio, quieta, sozinha. E ponho-me a ler Simenon a grande velocidade. Ou a ver filmes do Mizoguchi. Vão bem com o Verão. O ano passado vi "Os Amantes Crucificados" numa dessas tardes. Salvou-me a temporada.